Do que em 2014 nós brasileiros estamos nos conscientizando? De duas coisas: (a) a vida próspera do capitalismo mundial é uma festa, celebrada normalmente nas alturas com jatos executivos caríssimos (Gulfstream, por exemplo – veja Rothkopf: 2008), mas para ela nós não fomos convidados: a concentração da riqueza e o aumento descomunal da desigualdade estão cumprindo a profecia de São Mateus (13,12): “Porque ao que tem, se lhe dará mais e abundará; ao que não tem, mesmo aquilo que tem lhe será tirado”, ou seja, os super-ricos globais estão cada vez mais ricos e, os pobres, a cada dia, mais pobres – veja Freeland: 2012; (b) o Brasil é um dos Brics (países emergentes), mas não pode esquecer que, antes de tudo, faz parte da economicamente ingloriosa América Latina. Esta e a África são os dois continentes mais violentos e desiguais do planeta.
Nosso futuro próspero, rumo a mais igualdade material, voltou a ficar comprometido. A esperança foi substituída pela decepção, pelo desapontamento, que pode afetar a sociedade inteira, especialmente a juventude, por várias décadas no século XXI. É flagrante a crise da ética, da cultura, da educação, da formação profissional, do emprego estável remunerado dignamente etc. Depois de 514 anos, ainda ¾ da população brasileira são analfabetos funcionais. Nosso cenário de prosperidade se obscureceu. Vendo um mar de sangue correndo pelas cidades e pelos campos, cabeças decepadas, o pibinho, o retorno da inflação, o endividamento familiar, a desonestidade dos políticos e seus financiadores etc., perguntamos, perplexos: o que fizemos (os brasileiros) para merecer tanta desgraça? Seríamos dotados de muita ingenuidade quando reafirmamos nossa esperança no país diante dos mínimos sinais de vitalidade?
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