sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Desconstruindo a tese (o verdadeiro avanço social)

00:23- O (pen)último pilar

No final de julho, o M5M da Empiricus, abordou a queda do último pilar econômico, diante de sinais de exaustão do mercado de trabalho.
Além da onda de demissões na indústria, os dados mais recentes do Caged alertavam que as mazelas da política macroeconômica começaram a bater nos demais setores, com o pior resultado de criação de vagas para um mês de maio desde 1992, depois o pior junho desde 1998, depois o pior julho desde 1999...
Apesar das sinalizações contrárias do Caged, o emprego permaneceu na pauta como um argumento supostamente favorável à política econômica vigente, sob a roupagem da taxa de desemprego (cujos vieses já debatemos diversas vezes).
Bem como a redução da desigualdade social... Mas talvez esse - e não o emprego - seja o último pilar econômico.

01:31- A tese
Temos uma política atual fortemente escorada em programas sociais, de forma que o custo do crescimento econômico nulo, da inflação no teto da meta e da deterioração das contas públicas seria - em tese - justificado pela preservação dos empregos e melhora na distribuição de renda diante de uma crise externa...
... uma crise na qual as principais economias do mundo comparáveis à brasileira - e nossos principais parceiros comerciais - têm taxas de crescimento bastante superiores às nossas.
Mas esse não é o cerne de nosso debate, não hoje. Voltemos ao argumento social...

02:02- O verdadeiro avanço social
Dados da Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (Pnad) de 2013, divulgados hoje pelo IBGE, mostram que a desigualdade aumentou (!)
O índice Gini, que mede a distribuição da renda, passou de 0,496 em 2012 para 0,498 em 2013, primeiro aumento em doze anos, voltando para o mesmo patamar de 2011.
Agravante: levantamento do Ipea junto aos dados de Imposto de Renda já indicava que os 5% mais ricos, que representavam 40% da renda total em 2006, passaram a responder por 44% da renda total brasileira em 2012.
Mas os dados em questão não seriam um outlier, ou um problema de pequena amostra?
No limite, e por mais que nos esforcemos, o indicador não fornece qualquer evidência de que tivemos melhora na distribuição de renda no atual ciclo de governo:

 
 
02:33- Mercado x Estado (teoria)
A nova matriz econômica tem como mote o aumento da participação do Estado na economia: microgerenciamento, subsídios e muitos gastos públicos.
Grosso modo, a economia lida com três princípios básicos: 

(i) eficiência - o tamanho do bolo
(ii) equidade - a distribuição do bolo
(iii) liberdade - a vontade de comer bolo
A teoria diz que o mercado tradicionalmente resolve melhor do que o Estado questões de eficiência (primeiro Teorema do Bem-Estar).
Quase por definição, o mercado é melhor do que o Estado em termos de liberdade (pois não tem ninguém dizendo o que você deve fazer).
E, por sua vez, o Estado teria a melhor saída para a distribuição. Será?

03:16- Teoria x Prática (descontruindo a tese)
Já sabíamos previamente que os dados referendavam a teoria acima em termos de eficiência: se considerarmos períodos de quatro anos, temos o menor crescimento da atividade econômica desde Floriano Peixoto, ciclo encerrado em 1894.
Hoje tivemos forte evidência de que o Estado também não vem sendo bem sucedido em endereçar a questão da equidade.
Você cresce, você distribui. Os dados apresentados hoje indicam que não temos atingido nem um nem outro.
Se não temos eficiência, liberdade e equidade, o que temos?

04:01- O que os hermanos têm
O Congresso argentino aprovou nesta quinta-feira a lei de estabelecimentos, que dá poder ao Executivo para interferir nas decisões das empresas em geral.
Com isso o governo poderá determinar piso e teto de preços de produtos, multar companhias dependendo de sua política de estoques e ordenar que uma empresa mantenha a produção de determinado produto ainda que o mesmo esteja dando prejuízo (nesses casos, avaliando a possibilidade de subsidíos).
Pelo visto, os hermanos já encontraram a sua saída para (i), (ii) e (iii).
Imagina se a moda pega por aqui?

Publicado  prioritariamente pela Empiricus

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