quinta-feira, 17 de abril de 2014

Rolezinho do sexo choca população. Por quê?

O que nos choca? O fato de um rolezinho ter sido programado para o sexo e consumo de drogas? Deixemos de ser hipócritas e assumamos nossas culpas, omissão e falta de capacidade para criar filhos.



Um grupo de adolescentes resolveu marcar um rolezinho diferente. Em vez de ir ao shopping ostentar roupas de marca e ouvir funk, eles querem ir a um parque fazer sexo e usar drogas. Se quando eles tentaram fazer parte da sociedade de consumo, os adultos já ficaram incomodados, imagina como estão se sentindo agora que o que eles querem mesmo é fazer parte de algo que não tem ligação nenhuma com a sociedade. Por que é que isso choca tanto os adultos?
Adolescentes são impulsivos e vivem em um mundo fechado. Aqui ou em qualquer lugar do mundo. É como se, pela primeira vez, os adultos olhassem por uma frestinha de porta aberta para essa realidade. Mas, espera aí, esses jovens não foram criados por lobos e jogados só agora no nosso mundo. A realidade dos adolescentes é só uma réplica do mundo dos adultos. Eles foram criados e ensinados por adultos. E talvez seja isso o que mais choca: nossa incompetência.
A culpa de tudo isso não é das letras dos funks, nem da TV que mostra absurdos. É desses mesmos adultos que estão chocados. É dos pais que não conversam com os filhos sobre sexo. Das religiões que preferem tornar o assunto algo proibido a sentar com adolescentes e tirar suas dúvidas, explicar consequências físicas – não, eles não têm medo de ir para o inferno.
Adolescentes foram crianças que tinham a TV como babá, com pais muito ocupados tentando sobreviver. Foram criados ouvindo absurdos entre os adultos, passaram pela sexualização precoce que nossa sociedade parece ignorar e então seus hormônios começaram a agir. Eles têm tesão e isso não é culpa deles. A questão é que eles não sabem bem o que fazer com esse tesão e acreditam que a única forma de lidar com isso é seguindo os desejos. Essa é uma geração que foi ensinada que merece ser feliz, a qualquer custo. E eles estão seguindo esse ensinamento.
Todos nós fomos adolescentes e fizemos algumas escolhas erradas. Nada que acabasse com as nossas vidas, mas fizemos. E sobrevivemos, estamos aqui e, ao olhar para o passado, notamos como isso nos moldou. Todos passaram e passarão por isso, não adianta tentar mudar o fluxo das coisas. As descobertas são parte da vida. E não é como se fosse a primeira vez que um grupo de jovens reverencia sexo livre e drogas, basta lembrar dos anos 70 e fins da década de 60. O festival de Woodstock é um bom exemplo de um evento onde cada um consumia o que queria e transava com quem permitia.
O rolezinho do sexo não choca pelas drogas. Ninguém é cínico o suficiente para dizer que não sabia que esses jovens usam drogas. O rolezinho choca porque adolescentes estão lidando com o sexo de forma leviana para os padrões dos adultos. Eles estão tornando o sexo algo simplesmente físico e isso choca – e já chocava quando eu era adolescente e vai chocar quando meus filhos forem adolescentes.
A sociedade deveria ficar chocada, na verdade, com a falta de atenção que esses adolescentes recebem, com a TV sendo usada como babá, com os pais que não conversam sobre sexo com os filhos, com as religiões que reprimem e calam, com a nossa sociedade que sexualiza mulheres em todas as idades, com os padrões de beleza e sucesso que nos são impostos – sim, o sexo é um valor ligado ao sucesso. No fundo, as pessoas não estão chocadas com o sexo, mas com sua incapacidade de controlar esses adolescentes.
A juventude não está perdida, ela só está testando limites. Perdida mesmo, nesse momento, está a sociedade dos adultos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário