terça-feira, 27 de maio de 2014

Doenças decorrentes da poluição do trânsito geram perdas de R$ 7,7 trilhões anuais, diz OCDE


Leipzig, Alemanha - A poluição decorrente dos uso de veículos está causando perdas estimadas em US$ 3,5 trilhões (R$ 7,7 trilhões) ao ano devido a mortes prematuras e doenças, contados apenas os países desenvolvidos, a China e a Índia. O valor é maior que o PIB do Brasil, estimado em quase R$ 5 trilhões. É o que divulgou nesta quarta-feira (21) a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), durante seu Fórum Internacional de Transporte, realizado em Leipzig, Alemanha.
De acordo com a organização, que reúne países desenvolvidos e em desenvolvimento, o valor é decorrente de nova metodologia de contagem feita pela OMS (Organização Mundial de Saúde) que apontou o número anual estimado de mortes decorrentes da poluição dos transportes em 3,5 milhões de pessoas ao ano em 2012, valor cerca de 10% superior ao registrado no levantamento anterior, de 2010. Segundo o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, o número de mortos decorrente da poluição do transporte é maior que o estimado de mortes causadas por contaminação da água e falta de coleta de esgoto no mundo.
Para ele, o problema vem crescendo por causa de dois fatores, o aumento do número de pessoas com acesso a veículos e a falta de transporte público, aliado à falta de políticas públicas para reduzir a poluição dos transportes. Segundo Gurría, os países devem agir o quanto antes e a primeira medida deveria ser o fim do subsídio ao diesel, combustível mais poluidor que a gasolina e outros. "Não há justificativa ambiental para taxar o diesel menos que a gasolina", disse Gurría durante entrevista na tarde desta quarta-feira (21).
CHINA - De acordo com os dados divulgados pela OCDE, o crescimento dos custos estimados com mortes e doenças causadas pela poluição foi puxado pela China, que sozinha representou US$ 1,4 trilhão, valor próximo ao dos países desenvolvidos (EUA, Canadá e União Europeia), que somaram R$ 1,7 trilhão. A pesquisa atribui que uma parte das mortes decorrentes de ataques do coração, alguns tipos de câncer e problemas pulmonares são decorrentes da poluição.
No caso da União Europeia, por exemplo, metade de todas as mortes por essas causas são associadas à poluição atmosférica específica dos transportes. Segundo o trabalho, o número pode variar de país para país. De acordo com Guria, não foram feitos cálculos para a América Latina por falta de dados consistentes para a análise
Mas, no mais recente trabalho sobre o tema no Brasil, divulgado em outubro de 2013 pelo ICCT (Internacional Council on Clean Transportation), ONG que trabalha em cooperação com alguns órgãos governamentais no Brasil, o país aparecia como responsável por 3,5% das mortes mundiais decorrentes poluição atmosférica do trânsito.
No relatório do ICCT, o Brasil aparece como líder na adoção de medidas para reduzir a poluição do ar no trânsito, com a adoção de combustíveis mais limpos desde o ano passado. Segundo dados da própria OCDE, é o único país fora da Europa, Estados Unidos e Canadá a ter implementado essa mudança para ter um combustível equivalente ao nível 5 europeu. A Europa, EUA e Canadá já usam o combustível nível 6, enquanto os outros países adotam o nível 4 ou inferior. O relatório aponta no entanto que, se o país avançar para os padrões europeus mais rígidos, poderiam ser evitadas 2,4 mil mortes ao ano decorrente da poluição dos transportes previstas até 2030.
Enquanto isso, aqui no Brasil, um dos únicos países capaz de plantar seu combustível, assistimos, impassíveis, a desvalorização do proálcool, pela segunda vez. Alguém pode me explicar o mistério de tanta resistência a um combustível que não agride o meio ambiente e cujo bagaço pode ser usado como fonte geradora de energia? Mistérios como esse são do tipo que acharcam o bolso do brasileiro e fazem o país viver na rabeira da história.
Fonte: Dinni Amora - O repórter viajou a convite do ITF (Internacional Transport Forum), órgão da OCDE para estudos na área de transporte.

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