sexta-feira, 16 de maio de 2014

A prosperidade econômica é uma festa, mas nós…


Depois de um período de bom crescimento econômico (de 2000 a 2010), favorecido por várias circunstâncias internas e internacionais (alto valor das nossas mercadorias, câmbio – o real – estável, declínio na taxa de desemprego, mercado interno aquecido, inflação controlada, 7ª economia do planeta, conforme o Banco Mundial, etc. – veja Schwartsman e Giambiagi: 2014), começamos a nos imaginar membros do clube da prosperidade mundial emergente. Quando a classe C, chamada malandramente de classe média, tomava gosto pelo consumismo (essa foi a forma de integração social eleita, muito mais rápida que o longínquo e custoso sistema educacional de qualidade) e não se intimidava com o endividamento, eis que nos jogam uma jarra de água fria na cabeça, bloqueando, outra vez, nossa experiência com a modernidade ilustrada, que só pode acontecer quando abrandarmos nossa brutal desigualdade.
Do que em 2014 nós brasileiros estamos nos conscientizando? De duas coisas: (a) a vida próspera do capitalismo mundial é uma festa, celebrada normalmente nas alturas com jatos executivos caríssimos (Gulfstream, por exemplo – veja Rothkopf: 2008), mas para ela nós não fomos convidados: a concentração da riqueza e o aumento descomunal da desigualdade estão cumprindo a profecia de São Mateus (13,12): “Porque ao que tem, se lhe dará mais e abundará; ao que não tem, mesmo aquilo que tem lhe será tirado”, ou seja, os super-ricos globais estão cada vez mais ricos e, os pobres, a cada dia, mais pobres – veja Freeland: 2012; (b) o Brasil é um dos Brics (países emergentes), mas não pode esquecer que, antes de tudo, faz parte da economicamente ingloriosa América Latina. Esta e a África são os dois continentes mais violentos e desiguais do planeta.
Nosso futuro próspero, rumo a mais igualdade material, voltou a ficar comprometido. A esperança foi substituída pela decepção, pelo desapontamento, que pode afetar a sociedade inteira, especialmente a juventude, por várias décadas no século XXI. É flagrante a crise da ética, da cultura, da educação, da formação profissional, do emprego estável remunerado dignamente etc. Depois de 514 anos, ainda ¾ da população brasileira são analfabetos funcionais. Nosso cenário de prosperidade se obscureceu. Vendo um mar de sangue correndo pelas cidades e pelos campos, cabeças decepadas, o pibinho, o retorno da inflação, o endividamento familiar, a desonestidade dos políticos e seus financiadores etc., perguntamos, perplexos: o que fizemos (os brasileiros) para merecer tanta desgraça? Seríamos dotados de muita ingenuidade quando reafirmamos nossa esperança no país diante dos mínimos sinais de vitalidade?
Luiz Flávio Gomes
Publicado por Luiz Flávio Gomes

Nenhum comentário:

Postar um comentário